As Atrações Sazonais
Cláudio Barbuto
Como explorar as datas mais fortes do ano
Durante o ano, os empresários vivem esbarrando em datas específicas e demandas sazonais que podem ser mais bem exploradas para criar ou expandir negócios. Aproveitar essas oportunidades requer, no entanto, muitos cuidados no planejamento e, às vezes, mudanças de rumo, pois a dependência de uma só data ou produtos pode dificultar a sobrevivência da empresa. De qualquer forma, se o objetivo é enfrentar a sazonalidade, a melhora arma é a criatividade. O exemplo mais conhecido é o dos fabricantes de brinquedos, que para não se tornarem reféns do Natal e do Dia das Crianças buscam uma fatia de mercado durante a Páscoa.
Quando se escolhe um ramo de forte sanozalidade deve-se sempre pensar em alternativas. Segundo Pedro Ivan de Araújo Posetti, consultor do Sebrae-SP, quem monta uma sorveteria deve pensar em manter uma linha de chocolates e confeitos para o inverno ou vender também sorvetes com textura de iogurte ou musse durante o resto do ano. “As cestas de Natal podem ser vendidas em sistema de consórcio, sendo pagas durante 12 meses e entregues no fim do ano”, sugere Posetti.
Na área industrial, a sazonalidade concentra demais a produção e pode encarecer os custos. Quem quer fabricar panetones, por exemplo, terá seu boom de vendas no Natal e no Ano-Novo. Como pode se tornar inviável uma produção tão grande em um ou dois meses, o ideal é fabricar os panetones aos poucos, guardando-os em câmaras de baixa temperatura. O custo da estocagem cresce, mas já foi compensado pelo investimento menor na estrutura de produção. “Mesmo atendendo a uma data específica, a produção deve ser bem distribuída, seguindo o exemplo da fábrica de Papai Noel, onde os anões produzem o ano todo”, brinca o consultor do Sebrae.
Bonilha do Clube de Diretores Lojistas: Paraíso e purgatório para empresários |
As demandas sazonais podem ser o paraíso de uns e o purgatório de outros, segundo Oscar Otávio Bonilha Neto, presidente do Clube de Diretores Lojistas de São Paulo e diretor de assuntos corporativos do Mappin. “Na volta às aulas, a venda de material escolar tira efetivamente renda de outros setores”, avisa. Para combater essa drenagem de dinheiro, Bonilha Neto aconselha combater veneno com veneno. A criação de novas datas, campanhas que premiam os aniversariantes do mês ou as tradicionais quinzenas de ofertas são uma boa pedida.
Tanto para fabricantes como para comerciantes vale acompanhar safras e datas de acordos salariais de certas categorias profissionais. “Incentivar esses consumidores com rendas extras, promovendo produtos nos primeiros dias após o pagamento do salário ou sabra, é prova de sabedoria”, avalia Bonilha Neto. O lucro também pode vir de eventos esporádicos como Olimpíadas, Copa do Mundo, a estréia de um filme ou um grande show – em eventos como o Rock in Rio, a rede Bob’s chega a vender mais de 500 mil sanduíches. Camisetas, bonés, buttons e adesivos com uma alusão aos eventos, de preferência licenciados, têm uma boa acolhida.
Outro filão é o das festas regionais. A “germânica” Oktoberfest, realizadas em outubro, atrai para o turismo de Blumenau (SC) cerca de 1 milhão de pessoas, e a Festa do Peão Boiadeiro movimenta negócios de US$ 10 milhões para o comércio de Barretos (SP), em agosto. Romarias como as de Aparecida do Norte (SP) e Círio de Nazaré (PA), respectivamente no dia 12 e no segundo domingo de outubro, e ainda a de Juazeiro do Norte (de 28 de outubro a 2 de novembro) movimentam hotéis restaurantes e o comércio de lembranças. As feiras também atraem consumidores em potencial: somente as 24 feiras do calendário do ano de 1992 do Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo , devem ter recebido mais de dois milhões de visitantes.
Consultora de moda - Celina Kochen |
A atenção aos detalhes é importante para quem quer aproveitar uma ocasião, lembra a consultora Celina Kochen, da Celina Kochen Varejo e Franchising. Ao primeiro sinal de chuva, as capas plásticas devem ser deslocadas para a porta da loja, e as roupas brancas e azuis, principalmente moletons, devem estar em destaque com a proximidade do início das aulas. A exploração de datas marcantes exige, por outro lado, uma estratégia de recursos humanos com mais estoquistas, caixas e balconistas para atender ao número maior de consumidores. Também é fundamental conhecer o plano de marketing dos fabricantes. Brinquedos inspirados nos incontáveis super-heróis japoneses dos seriados de TV podem gerar uma febre, mas se esgotam com a mesma velocidade. Os meandros da sazonalidade exigem ainda que se levem em conta as classes sociais: no Dia das Mães, as pessoas mais simples investem em eletrodomésticos para o lar, enquanto as de maior poder aquisitivo buscam um presente pessoal.
Marcel Domingos Solimeo - ACSP |
Apesar de os últimos anos terem sido atípicos, dezembro ainda é a grande salvação para o comércio. Segundo Marcel Domingos Solimeo, superintendente técnico do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo, dados de 1987, considerado um dos últimos anos “normais”, mostram que as consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito, um termômetro das vendas a prazo, foram 49% maiores em dezembro do que a média dos outros meses. Uma tendência que vale ser observada é que, apesar de maio continuar como o mês das noivas, dezembro vem ganhando espaço na disputa do título. Mesmo assim, o segundo período em importância continua sendo maio – para o comércio, o Dia das Mães é o segundo Natal do ano -, com consultas 13% maiores do que a média dos demais meses.
Mesmo em datas que aparentemente não representam muito para o comércio de alguns produtos, há como garantir a simpatia dos consumidores. Uma loja que na venda de uma roupa oferece um ovo de Páscoa grátis, dá o “desconto do coelho” ou incentiva a mulher a estar bem vestida no Dia dos Pais certamente vai lucrar. Porém, os especialistas aconselham a não misturar conceitos indiscriminadamente, pois explorar a sazonalidade tem limites e nada pior do que vender fogos de artifício ou cestas de Natal numa loja de bolsas.
Calendário de Oportunidades
(Confira os atrativos de cada mês para aproveitar as demandas sazonais)
JANEIRO
- Férias de Verão
Material para camping, sorvetes, roupas e artigos de praia, bronzeadores, óleos repelentes e malas têm grande procura nessa época. Musses e comidas frias e naturais podem invadir as areias. Oficinas podem oferecer revisões de férias para automóveis. Parques de diversões também atraem público. Cidades, assim como São Paulo amargam um comércio fraco, enquanto as agências de viagens lucram. Muitos negócios podem ser vinculados a eventos regionais, como uma “Festa da Uva”.
FEVEREIRO
- Carnaval
As vendas de lantejoulas, máscaras e fantasias se concentram nesse período. O feriado prolongado incentiva o camping e os pacotes turísticos. As bebidas de todos os tipos são bastante consumidas. A promoção de bailes e sua produção (decoração, músicas carnavalescas e aparelhagem de som) perdem força, mas continuam como opções.
MARÇO
- Volta às aulas
Material escolar em geral, além de uniformes, tênis e malas, é tiro e queda. É o melhor período do ano para as papelarias. Produtos para cantinas e merenda escolar (mini-hambúrgueres, biscoitinhos, etc.) podem ser lançados. Esse também é o melhor momento para iniciar cursos de inglês, inaugurar academias de ginástica e toda sorte de cursos paralelos, pois as matrículas costumam se concentrar em março. Barbeiros e cabeleireiros têm seu movimento aquecido.
ABRIL
- Páscoa
Ovos, cestas e colomba pascal são inevitáveis. Pode-se, no entanto, promover presentes alternativos, principalmente brinquedos. Os restaurantes têm grande movimento, e os que promovem pacotes para o almoço de Páscoa costumam lotar – o peru da Páscoa poderia até virar um prato entregue em domicílio.
MAIO
- Dia das Mães
- Mês das Novas
Todo tipo de presente é válido: de um diploma em papel que atesta que ela é a melhor mãe do mundo até uma viagem de navio pelo Caribe. Evidentemente, os eletrodomésticos lideram a lista dos produtos mais vendidos. O que se pode fazer é buscar promoções como “avó é mãe duas vezes” para incrementar ainda mais as vendas.
Enquanto mês das noivas, maio beneficia toda a parafernália voltada para um casamento: lojas de presentes, aluguel de roupas, floriculturas e floristas especializados, músicos e corais.
JUNHO
- Festas Juninas
- Dia dos Namorados
Fogueiras e quadrilhas perdem espaço na cidade de São Paulo, mas se mantêm no interior e em outros Estados. Fogos de artifício, comidas e roupas típicas para as quermesses das escolas e chapéus de palha não podem faltar. O bolo de milho, entre outros, pode ser industrializado.
Para os namorados, o que mais se vende são roupas e acessórios, seguidos de perfumaria, além de noites em restaurantes e motéis. Entre as programações podem estar o “vale-disco” ou o “vale-livro” e o incentivo aos consumidores que já se casaram com o mote dos “eternos namorados”.
JULHO
- Inverno
A demanda aumenta nas localidades que atraem turistas, como Campos do Jordão (SP). Blusas, agasalhos, camping de inverno nas montanhas, fondue, queijos e vinhos aquecem o mercado. As papelarias devem apostar na reposição de material escolar para o segundo semestre. Sorvetes podem ser servidos com calda quente.
AGOSTO
- Dia dos Pais
Os presentes costumam ser os mais tradicionais possíveis. Gravatas, meias e cuecas são hors-concours. As opções giram em torno de produtos para a mesa do escritório e para o carro, bebidas, roupas e acessórios, cachimbos e jogos de ferramentas. Uma alternativa poderia partir de uma academia de ginástica que garantisse preços especiais para o filho que colocasse “o velho para malhar”.
SETEMBRO
- Dia da Secretária
Esse mês não tem um grande chamariz. A única data marcante é ainda pouco trabalhada pelo comércio e, quando explorada, é de forma apelativa, com promoções em restaurantes e motéis. Chocolates, flores e perfumes são os mais vendidos. Um negócio rentável seria a prestação de um serviço de escolha e entrega de presentes para facilitar a vida dos executivos. As promoções de primavera entram em funcionamento.
OUTUBRO
- Dia das Crianças
- Dia do Professor
Os brinquedos são imbatíveis. Parques de diversões, viagens e excursões são as alternativas. Roupas também, mas o senso comum entre os comerciantes diz que criança não gosta desse tipo de presente.
Já o Dia do Professor movimenta lojas de Cd’s e de roupas, perfumarias e floricultura. A data é mal explorada e o marketing fica por conta das próprias escolas, que promovem festinhas para os mestres.
NOVEMBRO
- Finados
A data movimenta o comércio de flores e velas e as marmorarias, com a renovação de lápides. As viagens são comuns nesse feriado. Novembro deveria ser mais explorado pelo comércio como ante-sala do Natal.
DEZEMBRO
- Natal
- Fim de Ano
A comemoração do Natal, que gira em torno da família, é mais emotivo e propício para presentes genéricos, panetones, cestas, nozes, enfeites, etc. Restaurantes devem manter promoções especiais para o almoço natalino. Nos dias 23 e 24 os supermercados registram seu maior pico – o segundo maior movimento é o da Quinta-Feira Santa.
No fim do ano, as festas nas empresas e as brincadeiras de “amigo secreto” devem ser exploradas. Brindes e agendas – encomendados com antecedência – são distribuídos. Nesse período, as lojas devem manter em estoque algumas roupas brancas a mais e – por que não? – calcinhas cor-de-rosa, que têm fama de dar sorte para quem as usa na passagem do ano.
Uma informação muito importante: Datas Comemorativas, - o mais completo calendário que será útil para blogueiros comentarem, obterem idéias para textos comemorativos ou até falar da profissão referente a data comemorada. E também para micros, pequenos e grandes empresários, e até para empreendedores utilizarem em seus negócios, até como um complemento no "Planejamento estratégico das oportunidades sazonais".
Fonte:
Revista PEQUENAS EMPRESAS Grandes Negócios
ANO IV – Nº. 45, Editora Globo, Outubro/1992, pág. 35
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